Uma das grandes questões da atualidade é, não o que aprender (ainda que esteja subjacente), mas COMO/ ONDE aprender! Numa época de profundas transformações, estas inquietações aumentam.
As dicotomias entre mundo online e offline, começam a esbater-se, a sociedade civil a movimentar-se exigindo respostas neste sentido, e o mundo da investigação, a fazer o seu papel, ou seja, a criar novos paradigmas na educação.
Existem imensas referências sobre ecossistemas digitais a começar por Moreira.
Estes ecossistemas aplicam-se a diversas áreas, nomeadamente a da educação.
Do artigo: Modalidade da
Pós-Graduação Stricto Sensu de Schlemmer e Moreira (2019), o que emerge de imediato é que para os autores
vivemos num mundo hiperconectado, o que é visível se efetuarmos uma introspeção
acerca do nosso modus vivendis.
Uma das grandes interrogações na
atualidade prende-se com esta realidade que alguns de nós deseja que se alastre
para a educação.
Schlemmer
e Moreira (2019), têm como pano de fundo esta realidade que pretende mostrar
que as dicotomias em que o mundo se passou a dividir: analógico versus digital,
ou educação presencial Versus online, não fazem sentido. Os autores fazem alusão
ao manifesto Onlife, centrando-se no contexto híbrido e multimodal e citam o
seguinte trecho:
Segundo
Moreira (2018), o fim da distinção entre o off-line e o on-line e a proposição
do neologismo onlife, é defendido no Onlife Manifesto – Being Human
in a Hyperconnected Era3 (2015), ao referir-se a uma nova realidade
hiperconectada, onde se afirma: Dualism is Dead! Long Live Dualities!
O artigo incide, por conseguinte, no modo
como esta visão híbida e multimodal é possível no curso de Pós-Graduação
Stricto Sensu (PGSS), “enquanto ecossistemas de inovação, tendo como
pressuposto a epistemologia reticular, conectiva e atópica.” (2019, p.691).
Na verdade, o que nos interessa não é a
descrição em si da pesquisa nem a metodologia que adotam, mas as conclusões a
que chegam, de forma a validar as nossas perceções individuais sobre esta
temática.
O que nos é dito, é algo que temos
repetido até á exaustão nos últimos anos, mas em particular nestes dois de
pandemia. Como referem e bem os autores, não se trata de um enfoque meramente
tecnológico (esse aspeto já devia estar resolvido há vários anos, acrescentamos
nós), mas o facto de vivermos numa cultura em rede que alterou substancialmente
o modo como devemos encarar a educação e a necessidade de se repensar novos
modelos pedagógicos, em particular na EaD e simultaneamente encetar-se um
design de um novo Ecossistema (vivo). Portanto, é fundamental que exista uma
mutação de práticas, mas mais do que isso, de um novo paradigma mental. No
fundo precisamos desconstruir paradigmas para voltar a reerguê-los.
Os
processos intrapessoais e interpessoais entre docentes e discentes alteram-se
já que os modelos pedagógicos também sofrem mutações.
A Arquitetura Pedagógica de um modelo
alicerça-se em grandes linhas de força, a saber:
1.Aspetos organizacionais; 2.
Metodológicos; 3. Tecnológicos; 4. De conteúdos.
Neste
projeto, foi adotado o modelo de Community of Inquiry, o
de e-moderating, e o modelo da Universidade Aberta de
Portugal (UAb). Este último porque inclui alguns aspetos dos anteriores e também
devido às suas características próprias: elaborado para ambientes digitais; com
flexibilidade nos processos de aprender; inclusão digital; centrado no
estudante; todo o tipo de interações possíveis entre todos os atores do sistema
educativo; de cariz humanista e dialógico.
Baseada nas leituras e análises ,caracterizo os ecossistemas digitais quase como uma simbiose entre o humano e o digital (bióticos e abióticos) entrelaçando-se e criando um meio onde a aprendizagem ocorre.
“Será que a tecnologia é assim tão neutra como defendem Bill Cope e Mary Kalantzis no seu livro?
Até que ponto os novos ecossistemas de aprendizagem, sustentados pela tecnologia, não estarão também eles a perpetuar outras formas de controlo e de afirmação de um outro tipo de poder? Tudo o que é interação digital fica gravado em qualquer lado e pode ser analisado de maneira a sugerir caminhos, isso também deve ser refletido e questionado. A criatividade defendida por Castells (ver segundo vídeo, são pequenos) , assente no “Multitasking” em detrimento da “memória” e da falta de concentração, também pode estar a ser um caminho sugerido por outras formas de poder.” Pedro Ribeiro,)
Nada é neutro nem tem que o ser. A educação tradicional, também não o é e isso dava pano para mangas. Os meios digitais, como quaisquer outros, e neste caso os ecossistemas digitais, têm desafios, mas não são responsáveis pela forma como cada um lhes responde.
Temos que criar balizas, educar eticamente, para respondermos aos diversos desafios que os novos ecossistemas nos trazem. Novos desafios perante questões antigas, as questões éticas.
Ainda o post do Pedro Ribeiro, discordo igualmente que “Se pensarmos bem, a educação tradicional, onde o professor assume o papel vertical de perpetuação das formas de poder e de comportamento na sociedade está a ser colocada em causa devido a estas novas formas de ensino onde a cooperação e a partilha, inerentes ao trabalho em rede para se atingirem determinados objetivos, está a minar aos poucos as formas de poder que regem as atuais sociedades. E é aqui que se pode colocar o sentido de revolução em vez de transformação”
A partilha e a cooperação já existem há muito na educação tradicional e não são apanágio do mundo em rede. A visão aqui apresentada é redutora e pouco atual.
O que me parece importante, “Todavia, para se orquestrar e aproveitar as diferentes alternativas propiciadas pelo digital e pelas tecnologias é necessário repensar a(s) pedagogia(s), pedagogia(s) não apenas direcionada para o conteúdo, mas também para as competências. Tais pedagogias necessitam (re)encantar e (re)engajar os estudantes de maneira que as dimensões comportamentais, emocionais e cognitivas inerentes ao processo de engajamento possam de fato ocorrer.” (Moreira e Rigo, 2018).
E é aqui que reside o cerne da questão. De pouco vale a tecnologia ou os conteúdos se estes não conseguirem comprometer o estudante no seu próprio processo de aprendizagem, ou seja, se não os envolver em todas as dimensões neste processo.
Um dos meus principais objetivos tem sido demonstrar que os meios digitais (os diferentes ecossistemas) são inócuos, ou seja, eles não encerram em si os grandes “males do universo”. Há quase uma demonização do digital que me incomoda.
Como todos sabem e já aqui foi referido, lidamos com dois opostos-inclusão Versus Exclusão. Com a pandemia e introdução do Ensino Remoto nas escolas, parece que de repente se fez luz e se trouxe ao de cima as questões da exclusão dos alunos mais desfavorecidos economicamente, culturalmente e claro com enorme iliteracia digital.
Estes estudantes, não foram excluídos nesta altura. Já o eram. O que a pandemia aumentou foi a dimensão da sua exclusão tipo lupa. Por outro lado, a inclusão através do digital, é a outra face da moeda, permite chegar a todos os que 1. tenham meios digitais, 2. Os saibam utilizar. Ou seja, não há “bela sem senão.”
Considero, todavia, que ecossistemas digitais de aprendizagem trabalham bem mais a inclusão do que a exclusão…basta colocarmos todos os alunos no século XXI, conferirmos as tecnologias e ensinarmos a usá-las.
Aliás, o manifesto, OnLIFE pós-covid-19 pretende normalizar a relação entre nós (Seres humanos) e o digital e isso é que me “seduziu”: a tentativa de se abolir esta dicotomia entre online e offline até porque, se repararmos, no nosso quotidiano, esta fusão entre nós e o mundo que nos rodeia nas suas diferentes manifestações e meios, já ocorre tal como na educação começa a acontecer:
“Com efeito, estes planos de ação de educação digital sublinham a importância de criar um ecossistema inovador que permita combinar diferentes presenças (físicas e digitais), tempos (síncronos e assíncronos), tecnologias (analógicas e digitais), culturas (pré-digital e digital) e, sobretudo, articular diferentes espaços e ambientes de aprendizagem (analógicos e digitais). Mas, mais do que a integração de ambientes físicos e virtuais de aprendizagem, este ecossistema deve afirmar-se como um conceito de educação total caracterizado pelo uso de soluções híbridas, envolvendo a interação entre diferentes modalidades, abordagens pedagógicas e recursos tecnológicos.”(Moreira, 2021, n.p.)
O que destaco deste texto, é a conceção híbrida nas suas diferentes manifestações, podendo funcionar como uma trilogia perfeita- eu, na sala de aula física, alunos nesta sala, outros em casa, todos conectados, ligados, numa partilha de ideia, emoções, sonhos, ligados uns aos outros pelo digital e analógico. Oh, I have a dream!
Na verdade, no início do ano letivo 2020/2021, no meu agrupamento de escolas, fomos instruídos a planificar, tanto para o ensino presencial, "a distância" como misto. Adivinhava-se uma mudança no status quo. Mas tal não aconteceu. Essa mutação, mesmo incipiente, necessita do apoio da tutela mas o mesmo não se verificou. Nem híbrido/ Onlife, nem Hyflex, nem rigorosamente nada. Apenas quando voltámos a confinar, reiniciámos o ensino remoto de emergência.
Neste momento, pese embora o número de ações dinamizadas pelo ME em parceria com a Universidade Aberta, o que assistimos é a um ME a insistir no ensino presencial como se este fosse efetivamente o único modelo passível de levar os alunos a aprender.
Não vislumbro por parte da tutela, a menor intenção de alterar paradigmas para além de querer transformar as escola num espaço digital para professores e alunos. Julgo que estamos na fase 1.
Que é preciso mudar? É? Que este é o momento? Sim.
Que começa a existir um movimento de mudança? Também.
Mas como todas as mutações isto leva tempo. .
Muitos dos meus alunos preferem aprender a partir de casa, ligados em Rede, com argumentos como conseguirem estar mais atentos, melhor comportamento, melhor gestão do tempo .
Outros preferem o presencial. E é tudo absolutamente legítimo! Mais do que nunca, devíamos caminhar para uma revolução Coperniciana dos ambientes de aprendizagem, vivos, dinâmicos, diversificados.
"O desenvolvimento de ecossistemas constituídos por ambientes de aprendizagem digitais em rede, baseados neste conceito de ecologia, requer, na realidade, uma mudança significativa na forma de pensar o ato educativo. O desafio passa pela criação de ambientes férteis, dinâmicos, vivos e diversificados onde o conhecimento, as ideias e o espírito empreendedor possam nascer, crescer e evoluir. E para isso é necessária uma abordagem que não se limite a considerar apenas os aspetos digitais, mas que privilegiem a construção de modelos de aprendizagem virtuais, com linhas de força e princípios teóricos em consonância com uma ou mais teorias educativas." (Moreira, Henriques, Barros et.al., 2000, p.8)
Não existe , de momento, que eu saiba, nenhum design instrucional adotado pela Ministério da Educação para resolver esta problemática.
Existe a capacitação Digital das escolas, o plano de Ação para o desenvolvimento digital, apenas e só.
Mas a investigação não pára e os Hyflex- Experiential Learning Hyflex surgem como outra forma de aprender a aprender e utilizam tanto o espaço físico como as plataformas virtuais começando-se a assistir já à implementação deste modelo.
No momento que atravessamos, apresenta-se como uma grande vantagem e o design do curso permite que todos participem de formas diversas.
Se um dos grandes problemas com que nos debatemos nas Escola é o abandono e o insucesso que resulta muitas vezes deste abandono, defendo que esta seria uma forma para ultrapassarmos(tentarmos) esta questão.
Muitos alunos que detestam o espaço escola enquanto espaço de aprendizagem, reagiram de forma positiva ao facto de poderem aprender a partir de casa.
Os Hyflex estão a ser experimentados também pelas universidades como por exemplo a Universidade Europeia.
Certo é que, devagar, os movimentos de mudança começam a sentir-se e as dicotomias a esbaterem-se. É este o futuro que desejo, em que cada um aprenda onde quiser, personalizando-se também os ecossistemas de aprendizagem.