segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

 

Educação e Sociedade em Rede

VIRTUALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

O fenómeno dos Chinese Boys constituiu um tremendo sucesso internacional típico da rede social You Tube e que só o advento desta tornou possível. O sucesso dos registos videográficos deste grupo de jovens chineses foi posteriormente alargado nos últimos anos, ao ser disseminado noutros outros canais de partilha de vídeos na rede. Todavia, o vídeo acima reproduzido foi o primeiro apresentado pela dupla e aquele que acabou por gerar o início do grande fenómeno de popularidade dos «rapazes chineses» especialistas em imitações de estrelas pop internacionais. Na verdade, pela análise do registo, torna-se evidente a con-fusão entre distintos valores culturais e societais que caracteriza o mundo virtual da rede. Nesta comédia de enganos, quem é afinal quem? Quem são estes rapazes? Será que importa sabê-lo? Não são eles precisamente para a rede apenas os «chinese boys» que a rede produziu? Qual é, então, a sua verdade?

A questão da autenticidade da rede ultrapassa em muito a trivialidade deste divertido exemplo. No entanto, ele desde logo abre-nos variadas pistas. Quem são e como são verdadeiramente esses outros que encontramos na rede? Que são eles por detrás das máscaras que constroem na rede? Que somos nós de nós próprios na rede? Somos ou poderemos ser transparentes? São as imagens que de nós partilhamos autênticas? Que dizem de nós? Tudo? Nada?

Por outro lado, como poderemos assegurar a autenticidade da informação? Pela sua transparência? Quem a valida ou autentica? Quem o poderá fazer? A própria comunidade, a propria rede? Será pela transparência dos processos de partilha? Como e em quem na rede poderemos confiar? Como se poderá garantir a qualidade da informação e como se poderá garantir a idoneidade da utilização dessa informação?

A atividade que vos propomos seguidamente comporta duas fases distintas. Assim, primeiramente, entre 07 e 15 de dezembro, deverão pesquisar textos e informações relevantes sobre o tema em análise. Depois, a atividade culminará, entre 16 e 21 de dezembro, na publicação individual de posts com as conclusões-síntese nos vossos blogues respetivos. Não se esqueçam que deverão indicar no fórum de debate especialmente criado para este tema o(s) link(s) para o(s) vosso(s) blog post(s)

 

 

 

 

 

 

 

 

Eu vivo na “rede”. Eu sou sempre eu, na rede ou fora dela.

Mas eu, não sou os outros!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Confesso a minha dificuldade em realizar esta tarefa…não por ser uma tarefa dificil, não é, mas exatamente por não ser, não me apetecia fazê-lo. É um pouco ter que escrever o óbvio. Infelizmente, o óbvio, também tem que ser explicado pois o que é óbvio, não o é para todos.

Refleti e resolvi ´entrevistar-me’ a mim mesma. E porquê? Porque eu vivo ligada às redes e, portanto, a minha imagem prolifera pelas mesmas.

Será que a imagem que dou de mim mesma é falsa? Ou seja, será que eu não sou quem sou?

E mais… será que na vida real (entenda-se, não virtual pois real é tudo o que somos), não acontece o mesmo?

Isto leva-nos à noção de máscaras e à noção do eu. Quantas máscaras ou quantos eus quero mostrar!? Somos sempre iguais consoante os meios, contextos, pessoas? Claro que não. Somos e mostramos partes de nós, aquelas que consideramos serem importante para aquelas pessoas, naqueles contextos.

Então, a ser assim, qual o motivo de termos que ser diferentes virtualmente?

Nenhum. A grande diferença é que virtualmente é mais fácil enganar. Apenas e só.

Pegando no exemplo dos Chinese Boys- não pretendem ser mais do que aquilo que mostram. Uma brincadeira que os diverte e nos diverte. E quem somos nós para interrogarmos sobre quem são eles? Eles pretendem ser mais do que aquilo que mostram? Não. Não me parece, são o que mostram, são o que querem ser. A questão da autenticidade/transparência é importante na rede mas é uma questão basilar da natureza humana e que se coloca em todas as relações interpessoais (virtuais ou sem ser). Naturalmente que este exemplo ‘cómico’ é um ponto de partida para outras questões mais complexas.

O que sou neste curso mestrado é uma parte de mim. E sou o que devo ser no sentido em que este é um meio formal, académico e apenas mostro uma parte de mim. Não faria sentido mostrar mais nada. Existem aspetos da minha natureza/personalidade que não cabem neste contexto e não é por isso que não sou transparente nem autêntica e que aquilo que “mostro” não corresponde ao meu eu. Claro que corresponde, mas sou muito mais do que aquilo que mostro neste contexto específico. Chegada aqui, a este momento do meu eu, preciso de recorrer a Ricardo Reis:

Vivem em nós inúmeros;

Se penso ou sinto, ignoro

Quem é que pensa ou sente.

Sou somente o lugar

Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.

Há mais eus do que eu mesmo.

Existo todavia

Indiferente a todos.

Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados

Do que sinto ou não sinto

Disputam em quem sou.

Ignoro-os. Nada ditam

A quem me sei: eu escrevo.

(13-11-1935Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1994.  – 182)

Se vivem em nós inúmeros eus como afirma e bem o poeta, temos que nos pautar por comportamentos diferentes na rede? Porquê?

O meu raciocínio alicerça-se então no seguinte:

1-      A Rede mostra o que queremos que mostre (uma parte de nós), não significando que não sejamos transparentes;

2-      A Rede potencia o engano devido ao anonimato;

3-      A Rede mostra facetas da natureza humana e, por conseguinte, não podemos esperar dela o que ela não pode dar/ser, ela limita-se a refletir o que os homens são ou querem ser/mostrar.

Partindo destes três aspetos, alicerço o meu pensamento.

Acrescento a estes axiomas que os diferentes domínios da nossa existência estão na rede. Felizmente vivemos numa sociedade mediada pela tecnologia, tornando o longe perto, facilitando interações e relações pessoais e profissionais.

A pandemia foi disso exemplo. Melhor ou pior interagimos e trabalhámos online (alguns de nós) e nem por isso deixámos de ser quem somos.

No plano pessoal / familiar; no plano profissional; na vida social, académica, não há domínio da nossa existência que não possa ser virtualizado. Exemplo desta virtualização das relações sociais são as amizades que se criam num curso desta natureza, entre pessoas que nunca se viram ao vivo mas que estabelecem laços profundos entre si.

O facto de habitarmos um mundo cada vez mais tecnológico isso não significa que o Ser Humano mude a sua natureza.

Basta elencarmos alguns comportamentos impróprios/disruptivos para percebermos que a tecnologia é apenas uma porta escancarada ao embuste.

Segundo Pedroso “Vivenciamos novos tempos, com novos desafios, relativos a questões antigas: as questões éticas!” (2013, p.1).

É disto que se trata. Toda a problemática que nos foi colocada, radica em questões éticas. As pessoas não traíam antes das relações sociais passarem para o mundo online? Traíam. Não é necessário efetuar-se um inquérito para isso. As pessoas não adotavam comportamentos de Bullying sem a existência da Web/Redes? Claro que sim. Com as relações sociais a ocorrerem através da web, passámos a assistir ao incremento deste comportamento. As pessoas não roubavam antes do surgimento das redes? Claro que roubavam. As pessoas não fingiam ser quem não eram antes? Fingiam. Então qual é a diferença?

A diferença está na possibilidade acrescida de qualquer um se poder passar por outro através de um ecrã e, por conseguinte, ser mais dificilmente apanhado. Quem valida? Pergunta-se? A própria rede? Nalguns casos sim. Os processos de partilha? Idem.

A qualidade da informação e idoneidade da utilização dessa informação? Ética Ética, Ética e Educação. Ou seja, só é possível boas relações interpessoais virtuais se estivermos alerta para a sua origem.

Existem formas de nos assegurarmos da autenticidade do outro.

Pesquisas bem feitas na Web permitem detetar rastos. Um dos aspetos que falha no curriculum tem a ver com a necessidade de se educar para a “Rede”, de se prevenirem comportamentos disruptivos. Tal como as questões da integridade académica ou ausência dela só se resolvem através de- 1. Educação; 2. Policiamento, também as questões do embuste que a Rede e a virtualização das relações sociais na mesma acarretam só poderão ser dirimidas desta forma. A sensação de impunidade tem que ser eliminada.

A este propósito, existem alguns programas de TV com esse objetivo (caça ao embuste), um deles a que já assisti e que se chama 'Catfish: “The TV Show'"Catfish", analisa esse mundo de relacionamentos virtuais repletos de ilusão e de mentiras.” Neste programa que basicamente é um programa de detetives privados modernos utilizando o rasto que deixamos na rede, procuram-se incongruências para apanhar os enganadores.

A verdade é que somos produtos, mas também somos produtores de conteúdos. Cada vez que criamos um post, cada vez que partilhamos uma informação e acrescentamos a nossa visão sobre essa informação, estamos a criar conteúdos. “Começamos assim por olhar o modo como as redes sociais estão desenhadas para criar e manter vínculos com outros, e como este enfoque na sociabilidade faz delas um espaço privilegiado para a representação do “eu” em ambientes digitais.” (Ferreira, 2014.p.76)

É sabido que criamos a nossa identidade. Segundo Ferreira (2014) é nas redes sociais que criamos o nosso eu.

A questão colocada nesta tarefa é a da transparência. É a procura dessa transparência que empregadores procuram na rede. Segundo Walters (especialista em recrutamento profissional)

Existem vários casos de pessoas que perderam os seus empregos com base em comentários ou publicações feitas no Facebook, por isso, mesmo depois de conseguir o emprego, seja cauteloso na forma como usa esta plataforma. Este não é o meio para tecer considerações negativas sobre o seu local de trabalho. Se algo o estiver a incomodar, fale diretamente com o seu superior para tentar resolver a situação.” (n.d. n.p.) Acrescenta o autor que a rede profissional considerada como válida pelos empregadores é o Linkedin, sendo vistas como inadequadas tanto o Facebook como o Twitter.

Vivemos num admirável mundo novo que nos traz diversos desafios no plano ético.

Tal como o avanço na biotecnologia necessitou e necessita de patamares Éticos, também as Redes ou ´A Rede’ necessitam dessas balizas e da criação de orientações e comissões que validem ou não determinados comportamentos, não numa perspetiva normativa mas reflexiva.

A Ética mais uma vez é chamada a assumir um papel crucial na evolução do Ser Humano, mas desta feita no mundo virtual.

Concluindo, discordamos desta posição pois não resolve nada, sendo apenas um placebo para um problema de grandes dimensões:

“No que diz respeito à autenticidade foi criado o Regulamento Geral de Proteção de Dados, que veio impor algumas regras principalmente no que diz respeito à obrigatoriedade de autorização explicita e informada na forma de registo de dados pessoais, consentimento obrigatório para a transmissão de dados a terceiros, a proteção de dados de indivíduos falecidos, autorização do tratamento de dados por parte de terceiros (incluindo de menores), e inclusivé os limites da videovigilância. No entanto, apesar de se dar mais poder e autonomia e poder aos cidadãos, ainda não são visíveis nem claros os efeitos deste regulamento.” (Cunha, M.Z., Sunday, A. E Magano, J.,2019, n.p.)

Educação, vigilância, Ética, a trilogia que defende a Virtualização das Relações Sociais, da transparência e da autenticidade.

Não julguemos a Web ou a cibercultura pelas falhas do Ser Humano.

 

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

Catfish

https://www.google.com/search gs_ssp=eJzj4tLP1TfIs6jKK88wYPQSKCjKTy9KzE1USE4sScsszgAAl_0KYw&q=

programa+catfish&oq=Programa+Cat&aqs=chrome.2.69i57j0j46j0l5.5902j0j15&

sourceid=chrome&ie=UTF-8

Cunha, M.Z., Sunday, A. E Magano, J. (2019.), A Virtualização das Redes Sociais segundo o Pensamento de Manuel Castells e Pierre Levy. Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 07, n. 15, p. 01-10, jul-dez 2019.

https://www.researchgate.net/publication/338234424_

A_Virtualizacao_das_Redes_Sociais_Segundo_

o_Pensamento_de_Manuel_Castells_e_Pierre_Levy

 Ferreira, Gil (2014) Rostos do Facebook - a formação da identidade nas redes sociais. Exedra Revista Científica Nº9-ESEC, 2014 http://exedra.esec.pt/wp-content/uploads/2015/04/n9-B4.pdf

Pedroso, Paula (2013), O papel disruptivo da abundância informativa no espaço escolar- para uma ética da aprendizagem http://hdl.handle.net/10400.2/2660

Walters, Roberts, (n.d) Redes sociais e o processo de recrutamento

https://www.robertwalters.pt/conselhos-carreira/redes-sociais-processo-recrutamento.html

 

 

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