segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

 

Educação e Sociedade em Rede

VIRTUALIZAÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS

O fenómeno dos Chinese Boys constituiu um tremendo sucesso internacional típico da rede social You Tube e que só o advento desta tornou possível. O sucesso dos registos videográficos deste grupo de jovens chineses foi posteriormente alargado nos últimos anos, ao ser disseminado noutros outros canais de partilha de vídeos na rede. Todavia, o vídeo acima reproduzido foi o primeiro apresentado pela dupla e aquele que acabou por gerar o início do grande fenómeno de popularidade dos «rapazes chineses» especialistas em imitações de estrelas pop internacionais. Na verdade, pela análise do registo, torna-se evidente a con-fusão entre distintos valores culturais e societais que caracteriza o mundo virtual da rede. Nesta comédia de enganos, quem é afinal quem? Quem são estes rapazes? Será que importa sabê-lo? Não são eles precisamente para a rede apenas os «chinese boys» que a rede produziu? Qual é, então, a sua verdade?

A questão da autenticidade da rede ultrapassa em muito a trivialidade deste divertido exemplo. No entanto, ele desde logo abre-nos variadas pistas. Quem são e como são verdadeiramente esses outros que encontramos na rede? Que são eles por detrás das máscaras que constroem na rede? Que somos nós de nós próprios na rede? Somos ou poderemos ser transparentes? São as imagens que de nós partilhamos autênticas? Que dizem de nós? Tudo? Nada?

Por outro lado, como poderemos assegurar a autenticidade da informação? Pela sua transparência? Quem a valida ou autentica? Quem o poderá fazer? A própria comunidade, a propria rede? Será pela transparência dos processos de partilha? Como e em quem na rede poderemos confiar? Como se poderá garantir a qualidade da informação e como se poderá garantir a idoneidade da utilização dessa informação?

A atividade que vos propomos seguidamente comporta duas fases distintas. Assim, primeiramente, entre 07 e 15 de dezembro, deverão pesquisar textos e informações relevantes sobre o tema em análise. Depois, a atividade culminará, entre 16 e 21 de dezembro, na publicação individual de posts com as conclusões-síntese nos vossos blogues respetivos. Não se esqueçam que deverão indicar no fórum de debate especialmente criado para este tema o(s) link(s) para o(s) vosso(s) blog post(s)

 

 

 

 

 

 

 

 

Eu vivo na “rede”. Eu sou sempre eu, na rede ou fora dela.

Mas eu, não sou os outros!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Confesso a minha dificuldade em realizar esta tarefa…não por ser uma tarefa dificil, não é, mas exatamente por não ser, não me apetecia fazê-lo. É um pouco ter que escrever o óbvio. Infelizmente, o óbvio, também tem que ser explicado pois o que é óbvio, não o é para todos.

Refleti e resolvi ´entrevistar-me’ a mim mesma. E porquê? Porque eu vivo ligada às redes e, portanto, a minha imagem prolifera pelas mesmas.

Será que a imagem que dou de mim mesma é falsa? Ou seja, será que eu não sou quem sou?

E mais… será que na vida real (entenda-se, não virtual pois real é tudo o que somos), não acontece o mesmo?

Isto leva-nos à noção de máscaras e à noção do eu. Quantas máscaras ou quantos eus quero mostrar!? Somos sempre iguais consoante os meios, contextos, pessoas? Claro que não. Somos e mostramos partes de nós, aquelas que consideramos serem importante para aquelas pessoas, naqueles contextos.

Então, a ser assim, qual o motivo de termos que ser diferentes virtualmente?

Nenhum. A grande diferença é que virtualmente é mais fácil enganar. Apenas e só.

Pegando no exemplo dos Chinese Boys- não pretendem ser mais do que aquilo que mostram. Uma brincadeira que os diverte e nos diverte. E quem somos nós para interrogarmos sobre quem são eles? Eles pretendem ser mais do que aquilo que mostram? Não. Não me parece, são o que mostram, são o que querem ser. A questão da autenticidade/transparência é importante na rede mas é uma questão basilar da natureza humana e que se coloca em todas as relações interpessoais (virtuais ou sem ser). Naturalmente que este exemplo ‘cómico’ é um ponto de partida para outras questões mais complexas.

O que sou neste curso mestrado é uma parte de mim. E sou o que devo ser no sentido em que este é um meio formal, académico e apenas mostro uma parte de mim. Não faria sentido mostrar mais nada. Existem aspetos da minha natureza/personalidade que não cabem neste contexto e não é por isso que não sou transparente nem autêntica e que aquilo que “mostro” não corresponde ao meu eu. Claro que corresponde, mas sou muito mais do que aquilo que mostro neste contexto específico. Chegada aqui, a este momento do meu eu, preciso de recorrer a Ricardo Reis:

Vivem em nós inúmeros;

Se penso ou sinto, ignoro

Quem é que pensa ou sente.

Sou somente o lugar

Onde se sente ou pensa.

Tenho mais almas que uma.

Há mais eus do que eu mesmo.

Existo todavia

Indiferente a todos.

Faço-os calar: eu falo.

Os impulsos cruzados

Do que sinto ou não sinto

Disputam em quem sou.

Ignoro-os. Nada ditam

A quem me sei: eu escrevo.

(13-11-1935Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1994.  – 182)

Se vivem em nós inúmeros eus como afirma e bem o poeta, temos que nos pautar por comportamentos diferentes na rede? Porquê?

O meu raciocínio alicerça-se então no seguinte:

1-      A Rede mostra o que queremos que mostre (uma parte de nós), não significando que não sejamos transparentes;

2-      A Rede potencia o engano devido ao anonimato;

3-      A Rede mostra facetas da natureza humana e, por conseguinte, não podemos esperar dela o que ela não pode dar/ser, ela limita-se a refletir o que os homens são ou querem ser/mostrar.

Partindo destes três aspetos, alicerço o meu pensamento.

Acrescento a estes axiomas que os diferentes domínios da nossa existência estão na rede. Felizmente vivemos numa sociedade mediada pela tecnologia, tornando o longe perto, facilitando interações e relações pessoais e profissionais.

A pandemia foi disso exemplo. Melhor ou pior interagimos e trabalhámos online (alguns de nós) e nem por isso deixámos de ser quem somos.

No plano pessoal / familiar; no plano profissional; na vida social, académica, não há domínio da nossa existência que não possa ser virtualizado. Exemplo desta virtualização das relações sociais são as amizades que se criam num curso desta natureza, entre pessoas que nunca se viram ao vivo mas que estabelecem laços profundos entre si.

O facto de habitarmos um mundo cada vez mais tecnológico isso não significa que o Ser Humano mude a sua natureza.

Basta elencarmos alguns comportamentos impróprios/disruptivos para percebermos que a tecnologia é apenas uma porta escancarada ao embuste.

Segundo Pedroso “Vivenciamos novos tempos, com novos desafios, relativos a questões antigas: as questões éticas!” (2013, p.1).

É disto que se trata. Toda a problemática que nos foi colocada, radica em questões éticas. As pessoas não traíam antes das relações sociais passarem para o mundo online? Traíam. Não é necessário efetuar-se um inquérito para isso. As pessoas não adotavam comportamentos de Bullying sem a existência da Web/Redes? Claro que sim. Com as relações sociais a ocorrerem através da web, passámos a assistir ao incremento deste comportamento. As pessoas não roubavam antes do surgimento das redes? Claro que roubavam. As pessoas não fingiam ser quem não eram antes? Fingiam. Então qual é a diferença?

A diferença está na possibilidade acrescida de qualquer um se poder passar por outro através de um ecrã e, por conseguinte, ser mais dificilmente apanhado. Quem valida? Pergunta-se? A própria rede? Nalguns casos sim. Os processos de partilha? Idem.

A qualidade da informação e idoneidade da utilização dessa informação? Ética Ética, Ética e Educação. Ou seja, só é possível boas relações interpessoais virtuais se estivermos alerta para a sua origem.

Existem formas de nos assegurarmos da autenticidade do outro.

Pesquisas bem feitas na Web permitem detetar rastos. Um dos aspetos que falha no curriculum tem a ver com a necessidade de se educar para a “Rede”, de se prevenirem comportamentos disruptivos. Tal como as questões da integridade académica ou ausência dela só se resolvem através de- 1. Educação; 2. Policiamento, também as questões do embuste que a Rede e a virtualização das relações sociais na mesma acarretam só poderão ser dirimidas desta forma. A sensação de impunidade tem que ser eliminada.

A este propósito, existem alguns programas de TV com esse objetivo (caça ao embuste), um deles a que já assisti e que se chama 'Catfish: “The TV Show'"Catfish", analisa esse mundo de relacionamentos virtuais repletos de ilusão e de mentiras.” Neste programa que basicamente é um programa de detetives privados modernos utilizando o rasto que deixamos na rede, procuram-se incongruências para apanhar os enganadores.

A verdade é que somos produtos, mas também somos produtores de conteúdos. Cada vez que criamos um post, cada vez que partilhamos uma informação e acrescentamos a nossa visão sobre essa informação, estamos a criar conteúdos. “Começamos assim por olhar o modo como as redes sociais estão desenhadas para criar e manter vínculos com outros, e como este enfoque na sociabilidade faz delas um espaço privilegiado para a representação do “eu” em ambientes digitais.” (Ferreira, 2014.p.76)

É sabido que criamos a nossa identidade. Segundo Ferreira (2014) é nas redes sociais que criamos o nosso eu.

A questão colocada nesta tarefa é a da transparência. É a procura dessa transparência que empregadores procuram na rede. Segundo Walters (especialista em recrutamento profissional)

Existem vários casos de pessoas que perderam os seus empregos com base em comentários ou publicações feitas no Facebook, por isso, mesmo depois de conseguir o emprego, seja cauteloso na forma como usa esta plataforma. Este não é o meio para tecer considerações negativas sobre o seu local de trabalho. Se algo o estiver a incomodar, fale diretamente com o seu superior para tentar resolver a situação.” (n.d. n.p.) Acrescenta o autor que a rede profissional considerada como válida pelos empregadores é o Linkedin, sendo vistas como inadequadas tanto o Facebook como o Twitter.

Vivemos num admirável mundo novo que nos traz diversos desafios no plano ético.

Tal como o avanço na biotecnologia necessitou e necessita de patamares Éticos, também as Redes ou ´A Rede’ necessitam dessas balizas e da criação de orientações e comissões que validem ou não determinados comportamentos, não numa perspetiva normativa mas reflexiva.

A Ética mais uma vez é chamada a assumir um papel crucial na evolução do Ser Humano, mas desta feita no mundo virtual.

Concluindo, discordamos desta posição pois não resolve nada, sendo apenas um placebo para um problema de grandes dimensões:

“No que diz respeito à autenticidade foi criado o Regulamento Geral de Proteção de Dados, que veio impor algumas regras principalmente no que diz respeito à obrigatoriedade de autorização explicita e informada na forma de registo de dados pessoais, consentimento obrigatório para a transmissão de dados a terceiros, a proteção de dados de indivíduos falecidos, autorização do tratamento de dados por parte de terceiros (incluindo de menores), e inclusivé os limites da videovigilância. No entanto, apesar de se dar mais poder e autonomia e poder aos cidadãos, ainda não são visíveis nem claros os efeitos deste regulamento.” (Cunha, M.Z., Sunday, A. E Magano, J.,2019, n.p.)

Educação, vigilância, Ética, a trilogia que defende a Virtualização das Relações Sociais, da transparência e da autenticidade.

Não julguemos a Web ou a cibercultura pelas falhas do Ser Humano.

 

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

Catfish

https://www.google.com/search gs_ssp=eJzj4tLP1TfIs6jKK88wYPQSKCjKTy9KzE1USE4sScsszgAAl_0KYw&q=

programa+catfish&oq=Programa+Cat&aqs=chrome.2.69i57j0j46j0l5.5902j0j15&

sourceid=chrome&ie=UTF-8

Cunha, M.Z., Sunday, A. E Magano, J. (2019.), A Virtualização das Redes Sociais segundo o Pensamento de Manuel Castells e Pierre Levy. Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 07, n. 15, p. 01-10, jul-dez 2019.

https://www.researchgate.net/publication/338234424_

A_Virtualizacao_das_Redes_Sociais_Segundo_

o_Pensamento_de_Manuel_Castells_e_Pierre_Levy

 Ferreira, Gil (2014) Rostos do Facebook - a formação da identidade nas redes sociais. Exedra Revista Científica Nº9-ESEC, 2014 http://exedra.esec.pt/wp-content/uploads/2015/04/n9-B4.pdf

Pedroso, Paula (2013), O papel disruptivo da abundância informativa no espaço escolar- para uma ética da aprendizagem http://hdl.handle.net/10400.2/2660

Walters, Roberts, (n.d) Redes sociais e o processo de recrutamento

https://www.robertwalters.pt/conselhos-carreira/redes-sociais-processo-recrutamento.html

 

 

Etiquetas: ,

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

 



Pierre Lévy, na obra intitulada ‘Cibercultura,’ apresenta a sua posição face a este conceito e ao modo como interfere na nossa vida.

Convenhamos que uma obra imensa, dedicada a este tema, é já de si representativa da importância que este “novo mundo” acarreta nos diferentes domínios da nossa existência.

Para começar, considerámos importante em termos de introdução, o autor comparar o movimento de Rock dos anos de 50/60 aos que recusam a Cibercultura. (2º dilúvio). Como tudo o que surge e abala as estruturas enraizadas, a emergência deste novo mundo provocou desconfianças, traz consigo imensas vantagens, mas também desvantagens. Dá vontade de escrever: ‘não há bela sem senão’.

Basta recordarmos inovações noutros tempos, como por exemplo o surgimento da Televisão, para compreendermos que a sociedade reage mal à inovação e que a forma como esta inovação é utilizada é que define os aspetos melhores ou piores das mesmas.

O próprio autor, arranja como exemplo o do cineasta que conhece, perfeitamente arredado e contra este mundo, quando o próprio cinema, na sua origem, lutou contra preconceitos idênticos.

Refere-se ao telefone como outro instrumento revolucionário e gerador de dinheiro, logo, com grandes repercussões económicas, para concluir que não é a técnica em si que deve estar em causa, mas, mais uma vez, a sua utilização, usando o argumento interessante da ‘responsabilidade coletiva’. Essa responsabilidade coletiva, é feita de responsabilidades individuais, que unidas, representam esta consciência? Ou, esta responsabilidade coletiva não passa da responsabilidade do “rebanho”, daqueles que seguem outros sem espírito crítico? Seremos todos seguidistas?

Um dos grandes chavões contra a cibercultura é a da exclusão. Começa por ser económica (dificuldade de acesso aos meios técnicos), para passar a ser cultural: uma decorre da outra.

Mas Lévy clarifica conceitos. Define o ciberespaço (ou rede), como o meio que permite as interconexões mundiais entre computadores, ou seja, dizemos nós, como as enormes autoestradas em rede – de pessoas, informações e de meios. Todos estes vetores fazem parte do conceito vasto de Ciberespaço de Lévy.

cibercultura “especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.” (Lévy, n.p.), ou seja, a uma parte do comportamento humano, essencial para que o ciberespaço deixe de ser constituído por meras autoestradas sem sentido, para passar a ser invadido por autoestradas COM sentido. Somos nós, Seres Humanos, que conferimos sentido à existência que nos circunda, como aliás, sempre fomos. Resta saber se consideramos que os objetos existem fora de nós, ou seja, sem a nossa existência…

Ao lermos Lévy, não podemos separar a análise do texto do autor, da parte reflexiva e crítica do mesmo. Assusta-nos a consciência que o autor já detinha em 1997 sobre estas temáticas, quando em 2020 ainda nos debatemos com as mesmas.

A técnica evoluiu, mas será que a natureza humana e suas preocupações foram mais além? Teremos encontrado respostas para as questões formuladas pelo autor? Se levarmos em linha de conta a primeira atividade nesta unidade curricular, a resposta é não. As dúvidas, preocupações surgidas com as vantagens /desvantagens; inclusão Versus Exclusão, são idênticas e de 1997 para 2020 muito mudou no ciberespaço…será que mudou na cibercultura?

Lévy divide a sua obra em três partes:

A primeira parte incide nos aspetos tecnológicos e cuja análise rejeita a ideia de uma tecnologia desprovida, fria, distante, quase como se fosse algo exterior à construção humana concluindo que “ é impossível separar o humano de seu ambiente material”, ou por outras palavras e parafraseando um amigo nosso, a tecnologia torna-se numa extensão de nós. Rejeita desta forma a ideia de existirem 3 realidades distintas-tecnologia, sociedade e cultura e no limite, a serem consideradas independentes, só o poderiam ser  no campo teórico. O determinismo tecnológico, é igualmente recusado por Lévy, referindo-se o autor ao facto de a sociedade estar condicionada pelas suas técnicas, nunca determinada, o que em termos filosóficos, abre a porta ao livre arbítrio (acrescentamos nós). Mas o fundamental de Lévy é a seguinte afirmação “Uma técnica não é nem boa, nem má (isto depende dos contextos, dos usos e dos pontos de vista), tampouco neutra (já que é condicionante ou restritiva, já que de um lado abre e de outro fecha o espectro de possibilidades).” (Lévy, n.p.), como nos parece evidente e recorrente ao longo da história.

A segunda, explora as questões abrangentes que a cibercultura implica no ciberespaço.

A terceira, aborda os aspetos negativos da cibercultura, os ataques, jogos de poder, conflitos, exclusão etc.

Não cabe neste comentário uma análise detalhada desta obra de Lévy mas sim o que releva desta nossa breve análise, i.e., aquilo que consideramos estruturante no conceito de cibercultura.

Na segunda parte desta obra, o virtual “é o novo bezerro de ouro, o novo ídolo de nossos tempos.” ( Lévy, n.p.), o que significa que apesar da virtualização, o significado ou a significação atribuída, é efetivamente o virtual, tal como o autor refere de modo claro no vídeo que aborda a virtualização. A mensagem é simples- a abstração que efetuamos do virtual é o conceito sobre… Para o autor

A palavra "virtual" pode ser entendida em ao menos três sentidos: o primeiro, técnico, ligado à informática, um segundo corrente e um terceiro filosófico. O fascínio suscitado pela "realidade virtual" decorre em boa parte da confusão entre esses três sentidos.

 

 

Lévy esclarece esta confusão e afirma que em termos filosóficos, falamos do ato e da potência exemplificando com a árvore (presente no grão); a utilização do senso comum, refere-se à imaterialização de algo; já o sentido técnico, neste comentário é o que menos nos interessa.

Outro conceito interessante abordado pelo autor, é o da inteligência coletiva. Aliás, é o próprio que afirma ser este um conceito criado por si e que foi sofrendo apropriações ao longo do tempo. Inteligência coletiva é um projeto e um conceito criado por Lévy e que parte da consciência que se impõe quando se coloca a questão: o que fazer com estas novas ferramentas? Responde Lévy- vamos fazer a inteligência coletiva. (vídeo). Na sua obra Ciberespaço e para chegar a este conceito, Lévy refere-se a 3 etapas na nossa História.

A primeira, em que as culturas estavam fechadas sobre si mesmas numa cultura oral (obviamente e na nossa ótica pouco fiável e nem sempre duradoura no tempo) e a que o autor apelida de ‘uma totalidade sem Universal’;

A segunda, relativa à escrita e que denomina de sociedades imperialistas, civilizadas, com uma ‘universalidade totalizante’ pois pela escrita cria-se a tal memória social;

A terceira etapa, corresponde à da Cibercultura que sendo universal, não é totalizante. O que Lévy quer sublinhar é que a cibercultura permite a formação de comunidades mundiais, mas nunca totalizantes pois trouxe ao de cima a conflitualidade/ desigualdade. Nunca poderia ser, pelo exposto, totalizante.

         O desafio colocado inicialmente “No dilúvio informativo que ameaça fazer desaparecer a sociedade contemporânea, estará reservada à responsabilidade individual, nascida da nossa liberdade enquanto cidadãos, o papel da nova Arca de Noé? Será que a responsabilidade individual ou a grupal possibilitarão a filtragem preservadora daquilo que constitui o património cultural essencial da sociedade humana?” a resposta é sim. Para Lévy.

Ele acredita numa inteligência coletiva e nas sucessivas ‘micrototalidades dinâmicas’ que se constroem e destroem.

Na verdade, a história da Humanidade, é num certo sentido a tentativa de preservação desta memória comum, desta universalidade de valores. Sim, porque é também de valores que ‘falamos’.

A grande vantagem da Cibercultura é que a sua universalidade é alicerçada numa certa continuidade da tradição desta memória coletiva realizada através do clero e das Universidades. Lévy vai beber a sua influência ao iluminismo e arriscamos até em afirmar que a sua postura positiva face a este “novo mundo” radica nesta influência.

Em suma, o ciberespaço “só encadeia no tempo por acréscimo. Sua principal operação é a de conectar no espaço, de construir e de estender os rizomas do sentido” (Lévy, n.p.)

Mas se a cibercultura abre um novo leque de possibilidades positivas, abre outras tantas preocupações. Podemos afirmar que de um lado temos o Yin e do outro o Yang, i.e., as habituais dualidades. Temos em mãos uma caixa de pandora…

O que nos parece interessante é que se espera que o ciberespaço e a cibercultura resolvam questões insanáveis como se de repente tivéssemos descoberto a solução para os grandes males da humanidade, como se as enormes assimetrias entre o Norte e o Sul, a miséria, as guerras, a corrupção, fossem obrigatoriamente resolvidas.

O autor reconhece que ‘Cada novo sistema de comunicação fabrica seus excluídos. Não havia iletrados antes da invenção da escrita?” (n.p) e porque haveria " agora" de ser diferente, interrogamos nós?

Espera-se deste “Universo” respostas que o mesmo não pode dar? E que nenhum sistema forneceu?

Reconhece o autor que “A cibercultura surge como a solução parcial para os problemas da época anterior, mas constitui em si mesma um imenso campo de problemas e de conflitos para os quais nenhuma perspectiva de solução global já pode ser traçada claramente. As relações com o saber, o trabalho, o emprego, a moeda, a democracia e o Estado devem ser reinventadas, para citar apenas algumas das formas sociais mais brutalmente atingidas”. (Lévy, n.p.) Em relação a esta temática, veja-se por exemplo como o espaço pessoal foi invadido pelo laboral; como a educação e o saber em linhas gerais tem vindo a sofrer alterações, como as democracias emergem, se alimentam e retroalimentam neste sistema, como o mundo laboral se tem alterado e a economia se tem alicerçado nesta Universalidade construída.

Não faria sentido num comentário desta natureza não abordarmos a questão da educação, seja no seu aspeto formal, seja no informal. Se na educação formal o ciberespaço abriu imensas possibilidades como o ensino a distância, a verdade é que a sua importância é cada vez maior no que à educação informal diz respeito.

A visão de Lévy é a de que o fosso entre ensino presencial e a distância seria cada vez menor pois “o uso das redes de telecomunicação e dos suportes multimídia interativos vem sendo progressivamente integrado às formas mais clássicas de ensino. A aprendizagem a distância foi durante muito tempo o "estepe" do ensino; em breve irá tornar-se, senão a norma, ao menos a ponta de lança.”

Esta posição de Lévy começa a realizar-se…mas ainda de modo incipiente.

Esperava-se que na atualidade a pandemia tivesse aberto os espíritos com o ensino remoto e a partir desta experiência de emergência se vislumbrasse no horizonte alterações significativas e significantes. Tal não aconteceu, mas estamos cada vez mais perto.

Lévy defende a aprendizagem cooperativa mediada pelo computador como precursora da inteligência coletiva. E percebe-se porquê. A partilha de materiais em bancos de dados e a aprendizagem conjunta de professores (alteração do seu papel) e alunos, potencia a construção deste tipo de inteligência. Há um descentramento do papel clássico do professor e da postura do aluno.

Para o autor, mais importante do que a questão do presencial ou a distância “É a transição de uma educação e uma formação estritamente institucionalizadas (a escola, a universidade) para uma situação de troca generalizada dos saberes, o ensino da sociedade por ela mesma, de reconhecimento autogerenciado, móvel e contextual das competências”. (Lévy, n.p.). A cibercultura alimenta-se destas interações e a noção de uma aprendizagem contextualizada num determinado tempo e espaço, dilui-se, surgindo a necessidade de uma aprendizagem ao longo da vida, a par da desconstrução das profissões para a vida que desaparecem aos poucos do imaginário e prática coletiva.

Tendo em conta que a cibercultura faz emergir novas formas de aquisição de saberes, é fundamental que a par deste novo sistema de formação, exista igualmente um novo sistema de acreditação. No fundo, o ciberespaço e a cibercultura trouxeram consigo alterações significativas na noção estabilizada de educação/formação.

            Para terminar, podemos almejar que a cibercultura resolva os problemas da natureza humana?

            Consideramos que não. Mas é exatamente nessa raiz que reside a esperança da Humanidade. Num vídeo onde reflete sobre estes temas, afirma Lévy “É como se quiséssemos dizer que o espírito só existe depois dos computadores”.

            Muito teríamos ainda para analisar em Lévy, mas somos obrigados a parar. Temos consciência que o entusiamo se apoderou de nós.

O que se pretendeu foi fornecer um olhar/ visão, como se de um drone se tratasse e despertar a vontade de quem lê ( e a nossa), de continuar a explorar esta temática.

 


Cibercultura


O que é o virtual- Lévy


Inteligência Coletiva

 

 

 

Etiquetas: ,

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

mPeL_Educação e Sociedade em Rede (ESR) 2020


Reflexão Individual

A sociedade em rede ultrapassa os conceitos de sociedade de Informação e de Conhecimento. Tem na sua origem estes dois conceitos, mas vai mais além.

A definição é muito mais abrangente dado que se utilizam os meios digitais, mas não se limita aos mesmos pois criam-se redes humanas de interesses comuns que podem ser de grande complexidade. 

O espaço físico dilui-se sendo substituído pelo ciberespaço. A noção de sociedade em Rede é definida por Castells (2002) partindo do setor económico, da saúde, e chegando à educação,  e as implicações que as tecnologias tiveram na  produtividade em diversos setores, desde os anos 70 até aos 90 em que não se conseguia perceber como  podia ser aplicada com eficácia.

Teixeira (2012) analisa o autor e ao efetuar a transposição para a educação, refere que que os decisores educativos ficaram décadas agarrados à importância das infraestruturas tecnológicas e menos ao como saber estar na Rede. Esta abordagem confere-nos uma ideia aproximada das implicações em termos educativos que esta sociedade em rede acarreta. As universidades (algumas), já se encontram mais perto de um conceito de governança, já as escolas (análise pessoal), ainda estão agarradas à importância das infraestruturas(que não possuem) ainda que o ensino remoto tenha finalmente despertado esta comunidade educativa para as questões de como aprender a distância e, por conseguinte, à problemática de uma sociedade em rede.

Teixeira (2012) refere o papel que a Universidade tem nos dias que correm, deixando de ser “difusora de conhecimento” para passar a descentrar a comunicação do seu centro e criar o que denomina de ‘dinâmica de fluxo’(comunicacional), ou seja, em rede.

Todavia, não existem mutações que não acarretem aspetos positivos e negativos.

A sociedade em rede, como qualquer outra, permite diferentes utilizações mas o que sobressai  é a descentralização que nos parece ser  a pedra de toque da sociedade em rede. 

Esta sociedade  não se fecha sobre si própria nem é o fim de um percurso. Ela continuará a desbravar caminhos.

O que o Ciberespaço fez foi tornar visível o que já existia.

Trouxe outro desafios,que serão paulatinamente resolvidos...

O que consideramos ser fundamental é o incremento da consciência coletiva sobre estes desafios.

O que nos parece significativo são as vantagens que advêm deste tipo de sociedade e as respostas que conseguimos dar a todos os desafios.

Os algoritmos ( por exemplo nas redes sociais) podem ser considerados uma manipulação. Se por um lado nos facilitam a vida mostrando mais e mais acerca dos nossos interesses de momento, poupando-nos  a outras procuras, cabe-nos a nós criar novas pesquisas e interesses e não ficarmos fechados num ciclo.

Onde muitos vêm desvantagens, outros descobrem vantagens para o desenvolvimento e a emergência da criatividade.

Em suma, a sociedade em rede nos seus diferentes setores, advoga a interdependência de instituições e alteração dos fluxos comunicacionais, num movimento de ‘boomerang’ entre nós e a sociedade.

Etiquetas: